Burnout, ou esgotamento profissional, é um problema que afeta diretamente a vida de cerca de 39,6 milhões de trabalhadores brasileiros. Uma pesquisa realizada pela International Stress Management Association (Isma-BR) indica que o Brasil é o segundo colocado entre os países do mundo onde os profissionais mais sofrem com o estresse crônico no trabalho.
As pesquisas sobre o burnout são muitas e determinantes em apontar o tamanho de um problema que interfere na qualidade de vida em sociedade e nos índices de produtividade das empresas. Segundo um levantamento do Instituto Gallup, 550 milhões de dias de trabalho são perdidos por ano nos Estados Unidos por conta do estresse crônico, representando um custo anual de mais de U$500 bi.
Por tratar-se de uma questão ocupacional e, portanto, estritamente relacionada ao gerenciamento do ambiente profissional, é fundamental perceber o que está por trás do burnout nas empresas e como o fenômeno deve ser combatido.
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ToggleBurnout [urgência empresarial]
Neste conteúdo, apontamos as principais causas do burnout nas estruturas corporativas e defendemos a ideia de uma atuação sistêmica em torno do problema. As abordagens mais comuns, estão direcionadas para tratar as consequências do esgotamento profissional no indivíduo. Aqui, a nossa proposta é trazer luz para o que as empresas devem fazer para se anteciparem ao problema, com o olhar voltado à criação de uma ambiente saudável de trabalho.
Ao final da leitura, esperamos que você concorde que, tão importante quanto tratar do indivíduo ao prevenir e remediar os sintomas do estresse crônico, é olhar para o ambiente corporativo de maneira ampla e estratégica. Só assim é possível identificar o conjunto de causas do burnout e implementar mudanças que se aproximem da raíz do problema.
O burnout é uma [síndrome]
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o burnout é uma síndrome resultante do estresse crônico no local de trabalho, que não foi gerenciada com sucesso.
Sindrome: conjunto de sinais e sintomas que define as manifestações clínicas de uma ou várias doenças ou condições clínicas, independentemente da etiologia que as diferencia.
Portanto, a Síndrome de Burnout, é uma consequência do gerenciamento equivocado de diversos fatores presentes no ambiente das empresas e nas relações de trabalho. A má qualidade deste gerencimento provoca o esgotamento profissional (exaustão extrema, estresse e esgotamento físico e mental)
Sintomas do burnout [nas pessoas]
Este conjunto de sintomas do burnout se expressa de formas e em níveis diferentes em cada pessoa. Mas, de maneira geral, os pesquisadores apontam três consequências principais do estresse crônico no ambiente de trabalho:
Exaustão física e emocional
Diferentemente do cansaço do qual é possível se recuperar, ou “recarregar as baterias”, com repouso e atividades que trazem prazer e satisfação, a exaustão é uma sensação constante de esgotamento.
No quadro de exaustão, por mais que profissionais tentem se distanciar (viagens de férias, desligar o celular nos fins de semana, praticando atividade fisica, por exemplo), a sensação de cansaço está presente no momento em que retornam às suas atividades no trabalho.
O burnout também se manifesta pela recorrência de sintomas físicos, como dores, inflamações, problemas intestinais, insônia, compulsão alimentar. É perigoso dissociar essas ocorrências como eventos isolados e sem relação com o trabalho.
Ineficácia profissional
O estresse crônico também se manifesta no sentimento de que o trabalho que a pessoa realiza não faz sentido. Essa sensação pode gerar a perda de produtivadade, o aumento na ocorrência de erros e atrasos.
Os relatos indicam que a perda de sentido a respeito do valor da atividade profissional causa a impressão de que as tarefas do dia-a-dia são mais penosas e complexas. O envio de um simples e-mail pode se tranformar em um obstáculo intransponível.
Despersonalização e cinismo
Neste quadro, os profissionais sentem a necessidade de isolamento do convívio profissional e passam a ter uma atitude de indiferença, distanciamento e negação do trabalho.
O cinísmo vem à tona. O burnout leva a pessoa a não se importar com a atividade profissional e com os resultados da empresa.
Burnout afeta mais os [melhores profissionais]
Antes de avaçarmos para uma abordagem mais sistêmica do combate ao burnout nas empresas, é importante salientar que profissionais mais compromissados, competentes e dedicados estão mais expostos à síndrome do esgotamento no trabalho.
Geralmente, este é o perfil de profissionais que dedicam mais energia à empresa. Por isso, estão sempre disponíveis, engajados, perseguindo metas e tentando se superar e mostrar resultados mais expressivos.
Se o ambiente no qual o profissional estiver inserido for tóxico, toda essa dedicação terá um prazo curto e um custo muito alto. Para ele e para a empresa.
Além do mais, adaptabilidade e resilência são características profissionais valorizadas e que podem ser desenvolvidas para que os profissionals lidem melhor com pressão, mudanças constantes e a intensidade da jornada de trabalho.
No entanto, aliadas a alto confiança e motivação, essas qualidades também fazem com que este pefil de profissionals esteja mais disposto a deixar a empresa em caso de insatisfação com ambientes de trabalho de baixa qualidade.
Os seja, o invesimento em treinamento e desenvolvimento de habilidades, assim como em ações pontuais para tratar casos isolados, é ineficiente se não vier acompanhado de em um esforço estratégico e sistêmico para que as condições do ambiente de trabalho sejam transformadas.
Principal causa do burnout [nas empresas]
Uma pesquisa realizada pela consultoria global Mckinsey apontou as principais razões que levam os profissionais à exaustão crônica no ambiente de trabalho:
[Comportamento tóxico]
Um em cada quatro profissionais afirmou ter experimentado o comportamento tóxico no ambiente de trabalho. Este é o principal fator que tem levado profissionais no mundo inteiro a deixar empresas.
O estudo mostrou que o comportamento tóxico aumenta em oito vezes a possibilidade de burnout de funcionários. E vivenciar os sintomas de burnout aumenta em seis vezes a intenção de deixar a empresa.
Uma pesquisa com profissionais que deixaram suas empresas durante e após a pademia da Covid19 (great resignation) apontou que a cultura tóxica foi dez vezes mais relevante que o salário na hora de tomar a decisão por mudar de emprego.
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Outras causas do burnout
Os pesquisadores da Mckinsey revelaram ainda outras causas associadas ao estresse crônico:
- Baixo nível de inclusão e pertencimento;
- Poucas possibilidades de desenvolvimento e crescimento na carreira;
- Insegurança na manutenção do emprego;
- Alto nível de estigmatização.
Já a Gallup entrevistou 7,5 mil profissionais ao redor do mundo. De acordo com os resultados da pesquisa, as principais causas apontadas para o burnout são:
- Tratamento injusto no trabalho;
- Carga rígida e excessiva de trabalho;
- Falta de clareza nas funções exercidas;
- Deficiência na comunicação e no suporte por parte das lideranças;
- Pressão por cumprimento de prazos agressivos.
Como o burnout afeta as empresas
Como vimos anteriormente, além de afetar a saúde mental e física de seres humanos, o burnout provoca altas taxas de turnover nas empresas, que significam a necessidade de reposição de profissionais. Logo, o burnout gera um prejuízo astronômico para os negócios.
Algumas pesquisas apontam que, o custo de substituição de um profissional está em uma janela que pode variar entre metade e duas vezes o custo do profissional durante um ano. Ou seja, burnout é um péssimo negócio, principalmente em tempos de geat resignation.
Além disso, absenteísmo, baixo engajamento de equipes e queda na produtividade são razões para acreditarmos que a síndrome precisa ser observada com atenção e o devido respeito.
O [papel das lideranças] na prevenção do burnout
Os gestores estão na posição mais adequada para fazer uma leitura do ambiente de trabalho, do comportamento das equipes e da saúde emocional e física dos trabalhadores. Assim, é papel das lideranças contribuir com a promoção de uma cultura de bem-estar e a criação de um ambiente positivo e saudável.
Cabe aos gestores também fazer a análise da performance de cada equipe ou área e buscar sinais de que algo não está funcionando tão bem. Como vimos anteriormente, o burnout deixa rastros que podem ser percebidos nas organizações. Assim, a primeira providência a ser tomada é treinar e desenvolver gestores para identificar estes sinais no dia-a-dia de trabalho.
Este trienamento e aprofundamento é importante para que as lideranças possam, além de localizar as razões que afetam negativamente a qualidade de vida no trabalho, se blindarem do estresse crônico. Afinal, o burnout também afeta muitos(as) gestores(as).
Sabemos que cada empresa e, ainda, cada equipe possui uma realidade distinta. De maneira geral, algumas ações importantes para melhorar a qualidade do ambiente profissional podem ser implantadas pelas lideranças. Trouxemos algumas sugestões:
- Mantenha a escuta ativa para relatos de problemas relacionados ao trabalho e mostre que a contribuição é válida;
- Incentive a integração e o trabalho em equipe para que os colaboradores possam trocar experiâncias;
- Inicie conversas abertas e valorize a opinião e as ideias de todos os membros do time;
- Ofereça feedback positivos baseados em resultos, iniciativas e competência profissional;
- Contribua para que os colaboradores percebam o propósito das suas atividades.
Como combater o burnout [de maneira sistêmica]
Ao criar um ambiente saudável de trabalho, a empresa tem a oportunidade de passar a lidar com os aspectos positivos da prevenção do burnout. Assim, os investimentos e esforços são direcionados para a promoção da saúde, não para o remediar as consequências.
Algumas mudanças no planejamento das atividades e na estrutura física de trabalho vão gerar resultados significativos e trazer benefícios para a organizção toda:
- Desenvolva a habilidade de escuta ativa e forneça repertório para que façam perguntas importantes sobre as condições de vida na empresa;
- Envolva as pessoas na criação de metas e prazos. Faça acordos e combinados reais, fuja do microgerenciamento e dê autonomia para a execução das atividades;
- Ao recrutar pessoas, dê especial atenção ao fit cultural. Além disso, crie processos aprofundados de integração e onboarding efetivos.
- Implemente a cultura de desenvolvimento constante, reconheça e valorize as pessoas e remunere muito bem os seus talentos;
- Promova um ambiente onde as pessoas encontram segurança psicológica e possam ter perspectivas claras de crescimento e visão de futuro;
- Crie políticas sólidas de inclusão e diversidade e promova a integração entre cultura e o respeito mútuo;
- Não dê espaços para estigmatização e o preconceito. Dê espaço para que as pessoas sejam autênticas;
- Ofereça ambientes confortáveis de trabalho com boa iluminação;
- Crie espaços com possibilidade de integração entre as pessoas. Estimule conversas positivas.
Conclusão: [Burnout é uma urgência estratégica]
Como foi possível observar, conter o avanço do burnout nas empresas é uma urgência. Apesar da sua importância do apoio aos profissionais que já enfrentam quadros de estresse crônico, o investimento no combate aos sintomas não é suficiente.
Para que as empresas contornem o problema e passem a promover a saúde e o bem-estar na sociedade, é necessário trazer um novo olhar para a relação entre as pessoas e o ambiente profissional e as rotinas de trabalho.
Tudo isso, acreditando que o trabalho é uma fonte de estabilidade financeira, conhecimento, realização e felicidade.
Se a sua empresa está passando pela necessidade de conter o avanço do burnout e trazer mais equilíbrio em vida profissional e pessoal, conte com a gente.
Se você está enfrentando problemas de estresse crônico e identificou alguns dos sintomas que foram falados neste contéudo, procure ajuda. Converse com a sua liderança o quanto antes ou procure o RH da sua empresa.
Caso a sua empresa não forneça abertura para o diálogo e você não se sinta seguro para compartilhar a situação, procure um grupo de ajuda para pessoas que sofrem de burnout nas empresas. Você não está sozinho(a).